As Virtudes
Virtude é uma disposição habitual e firme para
fazer o bem. (CIC)
Como afirma a Igreja, toda pessoa virtuosa vive segundo sua força
sensível e espiritual na busca de praticar o bem, porque é praticando as obras
boas que iremos nos assemelhar-nos a Deus. Pois assim declara a Escritura:
“Deus disse: façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança...”[1]
Esse assemelhar-se é como dizia São Gregório de Nissa: “o objetivo da vida
virtuosa” (ver CIC : 1803). Todo
virtuoso segundo os moldes filosóficos aristotélico busca o bem e foge dos
vícios.[2]
As virtudes podem ser divididas em dois blocos: as virtudes
humanas e as virtudes teologais. As humanas são também chamadas de virtudes
cardeais. Para melhor compreensão da exposição falaremos de cada uma e suas
características.
As virtudes humanas são, na verdade, atitudes firmes, disposições
estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade que regulam nossos
atos.[3]
Segundo os ensinamentos da Igreja, uma pessoa é virtuosa quando consegue praticar
livremente o bem. Podemos, seguindo esse axioma, afirma que pessoa virtuosa é
aquela que diante das opções entre o bem e mal, escolhe livremente aderir
àquilo no qual resplandece o Belo, o Bem, o Perfeito.
As virtudes humanas morais são adquiridas humanamente. Elas constituem os
frutos de atos moralmente bons. Elas ajudam o homem a comungar do amor divino.
Quem é virtuoso age segundo o amor e a força de Deus.
As virtudes cardeais são quatro: a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a
Temperança. Todas as outras virtudes humanas se agrupam em torno delas. A
prudência, segundo o Catecismo da Igreja Católica, “é a virtude que dispõe
a razão prática a discernir em qualquer circunstância nosso verdadeiro bem e a
escolher os meios adequados a realizá-lo.”[4] Escrevia Santo Tomás de Aquino que a
prudência é a regra certa da ação
(cf S. Th. IN CIC, 1806). É ela quem
guia o juízo da consciência. A pessoa prudente age, move-se e orienta-se
segundo esse juízo consciente.
A justiça “é a virtude moral que consiste na vontade constante e
firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.”[5]
Essa justiça para com Deus se chamará de
virtude da religião. Para com os homens caracterizar-se-á pelo respeito para
com o direito de cada um e a busca de estabelecer relações harmoniosas e
fraternas na vivência do bem comum.
A fortaleza “é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades,
firmeza e Constância na procura do bem.”[6] A fortaleza ajuda a vencer o medo e a
suportar as provações. “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu
venci o mundo.”[7] A
fortaleza é a virtude de quem é justo, pois o justo para defender a justiça
precisa ter fortaleza de espírito.
A temperança “é a virtude moral que modera a atração pelos
prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados.”[8] A
virtude da temperança serve como balança de nossa ação, uma ver que, assegura o
domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da
honestidade. Em outras palavras podemos indagar a virtude da temperança como
sendo aquilo que Aristóteles chamou de a “essência da virtude”, isto é, o
equilíbrio.[9] A pessoa
temperante é acima de tudo uma pessoa equilibrada que sabe orientar bem os seus
apetites e vícios.
Essas virtudes humanas que elencamos são adquirida pela educação ou
hábito, por meio de atos e práticas constante, mas, que por sua vez são
purificados e elevados pela graça divina que atua em nós através do Espírito do
Senhor.
As outras categorias de virtudes são denominadas de teologais. São elas:
a Fé, a Esperança e a Caridade. As virtudes humanas fundam-se nas teologais,
que adaptam as faculdades do homem para participar da natureza divina, uma ver
que, as virtudes teologais remetem ao próprio Deus. Segundo o CIC, “as
virtudes teologais fundamentam, animam e caracterizam o agir moral do cristão.
Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma
dos fiéis para serem capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna.
”[10]
A fé “é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo que
nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe crer, porque ele é a
própria verdade.”[11] A
fé é uma virtude que para ter sentido pleno precisa imbui-se de atitudes de
caridade. Como nos alerta São Tiago: “a fé, se não tiver obras, está morta em
seu isolamento”[12] Por
isso a fé como virtude teologal é caminho de abertura para a maior das virtudes
que é a caridade.
A esperança “é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa
felicidade o Reino dos céus e a vida eterna, colocando nossa confiança nas
promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças próprias, mas no
socorro da graça do Espírito Santo.”[13] A
virtude da esperança aponta para a realização última, por isso ela é resposta
às nossas aspirações de felicidade colocadas por Deus em nosso coração. A esperança é a virtude que nos ajuda a
suportar com amor e paciência as provações da vida. Ela é a “âncora da alma” e
sustento na tribulação.
A caridade “é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre
todas as coisas, por si mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de
Deus.”[14]
Essa virtude foi classificada por São Paulo como a maior das virtudes
teologais. (cf. 1Cor 13, 13) Ora, o próprio Cristo resume seu mandamento nesta
virtude: Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros (cf. Jo 13,
34).
Segundo o CIC “o exercício de todas as virtudes é animado e inspirado
pela caridade, que é o vínculo da perfeição.”[15]
Com a caridade aperfeiçoarmos nossa prática de amar, pois como nos lembra o
capitulo treze da Primeira Carta aos Coríntios: ainda que distribuísse meus bens aos pobres, sem amor
nada disso adiantaria (cf. 1Cor 13). Segundo São Basílio: “A finalidade de
todas as nossas obras é o amor. Este é o fim; é para alcançá-lo que corremos, é
para ele que corremos; uma vez chagados, é nele que repousamos.”[16]
Estas virtudes estão revestidas pela força do Espírito Santo. Nelas os
dons do Espírito se derramam como bênção de Deus sobre os homens. Esses dons
agem como disposições, que impulsionam os homens a permanecerem dóceis aos
apelos do Espírito. Segundo o CIC, os tese dons “completam e levam à perfeição
as virtudes daqueles que o recebem.”[17] Os tese dons são: sabedoria, inteligência,
conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus, que em plenitude
pertencem a Cristo.
Concluindo, como tentamos demonstrar há dois tipos de virtudes: uma
humana que chamamos de cardeais, outras que denominamos de virtudes teologais.
As primeiras brotam da educação, isto é, da prática humana. As virtudes morais
são fruto dos nossos exercícios e hábitos. As quatro virtudes cardeais
(prudência, justiça, fortaleza e temperança) são base para as demais virtudes.
As virtudes cardeais alimentam-se das virtudes teologais, porque é Deus quem
ordena tudo. As virtudes teologais têm Deus por origem, motivo e objeto, Deus
conhecido pela fé, esperado e amado por causa de si mesmo. As virtudes
teologais (fé, esperança e caridade) informam e vivificam todas as virtudes
morais.
[1] Gn. 1,
26
[2] cf
Aristóteles, Ética Aniômaco livros I e II.
[3] CIC,
1804
[4]
idem, 1806
[5] idem ,
1807
[6] idem ,
1808
[7] Jo 16,
33
[8] CIC,
1809
[9] cf
Aristóteles, Ética Anicômaco, livros VI e VII
[10] CIC,
1813
[11] idem,
1814
[12] Tg 2,
26
[13] CIC,
1817
[14] idem,
1822
[15] idem,
1827
[16] São
Basílio, IN CIC, 1829