Homilia do Pe.
Fantico Borges, CM – II domingo do Advento ano B 2017
Preparai o coração para acolher o Senhor!
Neste segundo domingo do Advento
os textos litúrgicos chamam atenção para conversão, para vinda do Senhor no natal.
O mundo, porém, parece continuar mudo e insensível a esse acontecimento. O apelo
é para todos! “Consolai o meu povo, falai ao coração de Jerusalém e dizei em
alta voz que sua escravidão acabou.” Com estas palavras Isaias nos diz que Deus
quer salvar todos àqueles que nele esperam. Preparai no deserto o caminho do
Senhor, aplainai, na solidão, a estrada de nosso Deus. O deserto é o lugar do
encontro do penitente com sua consciência. Diante de Deus estamos a sós com Ele.
São João da Cruz fala da solidão como separação afetiva e efetiva de pessoas e
coisas para melhor se relacionar com Deus, necessária para uma proveitosa concentração
que leva à descoberta de Deus e sua experiência. Neste sentido, o silêncio da
oração é ir ao deserto do nosso interior para construirmos um diálogo
proveitoso com Deus. Assim o silêncio é uma atitude interior de amor e de
escuta de Deus que modera todas as nossas atividades: gostos, paixões, desejos,
palavras e atos. O silêncio é terapêutico-espiritual que fortalece a caminhada
no combate diária pela santidade.
No caminho da santidade, então, se
encontram gestos de conversão: preparem os caminhos do Senhor, nivelem-se os
vales, rebaixem-se todos os montes e colinas; endireitem-se o que é torto e
alisem-se as asperezas. Levantem a voz e proclamem o poder do Senhor Jesus
Cristo. Para tanto, tudo começa com a humildade. João Batista é esta figura que
com total humildade preparou os caminhos do coração para receber o Filho de
Deus. Diz João Batista: “depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem
sou digno de me abaixar para desamarrar suas sandálias” (Mc 1,7). Falando sobre
a humildade nos Escritos Espirituais, São
João da Cruz diz que “a humildade precede a glória”. Tem mais proveito para
salvação o ser humilhado do que o reconhecimento e aplausos dos outros. Pois o
homem sozinho não faz nada de bom. Ensina Santo Afonso Maria de Ligório que a
oração é o substrato da vitória e que somente com humildade se alcança o cume. Devemos
todos imaginar que estamos sobre as alturas de um monte, suspensos sobre o
abismo de todos os pecados e sustentados apenas pelo fio da oração; se este fio
se arrebentar, cairemos certamente neste abismo e cometeremos os crismes mais
horrorosos. Se Deus não me tivesse ajudado, já teria caído no inferno (sl 93,17).
Assim falava o salmista e assim deve dizer cada um de nós. Se Deus não estiver
ao nosso lado quando chegassem as tentações, com certeza cairíamos nos mesmos
pecados que condenamos nos outros.
João Batista veio preparar os
caminhos de Jesus. Pregou um batismo de conversão para o perdão dos pecados. Em
João o penitente primeiro se arrependia de seus pecados, maldades, maquinações e
depois recebia o batismo nas águas do Jordão. Em Jesus o batismo é um ato livre
de Deus, pois nos é dada a graça mesma como pecadores. Daí uma diferença ontológica
no ato de batizar, João batiza com água para conversão em Jesus é oferecido o
amor de Deus gratuitamente.
Neste tempo litúrgico a meditação
sobre a figura de João, o Batista faz pensar na nossa caminhada. Este é aquele
de quem falou o profeta Isaías dizendo: “Voz do que clama no deserto; preparai
os caminhos do Senhor, endireitai suas veredas”. A missão de João Batista foi a
de ir à frente do Senhor para preparar os seus caminhos, ou seja, dispor um
povo que receba o Reino de Deus com consciência reta. João foi o primeiro a
seguir esse itinerário, buscando uma vida simples e humilde, vivendo no deserto
a fim de encontrar Deus pela oração e chamar pelo testemunho de fé muitas almas
para o Senhor.
Os primeiros discípulos seguiram
Jesus por indicação expressa dele e muitos outros se prepararam interiormente
para segui-Lo graças à sua pregação. Mas é importante notar em João que sua
vocação abarca sua vida inteira e leva a fazer girar tudo em torno da missão
divina. Cada homem, no seu lugar e dentro das suas próprias circunstâncias, tem
uma vocação dada por Deus. Quando um marido santifica seu lar com atos justos,
verdadeiros à luz do evangelho, estar sendo um Batista; quando uma mulher busca
edificar sua vida por meio da obediência a Palavra de Deus exerce a missão de
João Batista; quando um sacerdote vive em obediência ao seu ministério, numa
vida de castidade, pobreza e abandono a Deus torna-se um Batista. Neste sentido
nossa vida deve ser uma carta convite a Jesus como também um ato de contradição
para este mundo.
Preparai os caminhos do Senhor,
endireitai as suas veredas… O Batista é a voz que anuncia Jesus. “Entretanto,
hoje João Grita e diz: preparai o caminho do Senhor, aplainai os caminhos de
nosso Deus. Se ele nos manda preparar o caminho do Senhor, a saber: não se
refere às desigualdades do caminho, mas à pureza da fé. Porque o Senhor não
deseja abrir um caminho nas veredas da terra, mas no segredo do coração” (São
Máximo de Turim sermões, 88,2). Por isso mesma toda sua vida estar definida em
função de Jesus, como teria que acontecer na nossa vida, na vida de qualquer
Cristão. O importante de nossa vida é Jesus!
O Precursor indica-nos o
caminho que devemos seguir: o importante é que Jesus Cristo seja anunciado,
conhecido e amado. Só Ele tem palavras de vida eterna, só nEle se encontra a
salvação. A atitude de João é uma clara e enérgica advertência contra o
desordenado amor próprio que sempre nos incita a colocar-nos indevidamente em
primeiro plano. Uma preocupação de singularidade, a ânsia de sermos
protagonistas, não deixaria lugar para Jesus. Sem humildade, não poderíamos
aproximar os nossos amigos de Deus. E então a nossa vida ficaria vazia.
Que tipo de testemunhas nós
somos? Como é nosso testemunho Cristão entre os nossos colegas, na família? Nossos
atos cotidianos dão sinais de sermos discípulos de Jesus? Tem eficácia suficiente
para persuadir os que ainda não creem em Jesus, os que ainda não o amam, os que
têm uma ideia falsa a seu respeito? O nossa vida é coerente com o Evangelho?
Aproveite o tempo do Advento
para preparar seu coração para Deus, nivele seus pensamentos ao Evangelho,
aplaine seus desejos aos projetos do Reino, alise as asperezas de seu coração com
gesto de solidariedade, fraternidade e amor. Ganhemos para Deus o maior número possível de
almas. Ensinava Sto. Agostinho: “ Não queirais viver tranquilos até
conquistá-los para Cristo, porque vós fostes conquistados por Cristo”.
Pe. Fantico Borges, CM
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