domingo, 18 de fevereiro de 2018

Homilia do Pe. Fantico Borges para I semana da quaresma ano b.

Homilia do Pe. Fantico Borges para  I semana da quaresma ano b.

Fazei Penitência e Credes no Evangelho!

Neste tempo Deus nos chama a conversão pelo caminho dos exercícios quaresmais. As tentações e provas são meios de purificadores nesta jornada santificante. O Senhor faz conosco uma aliança, ou seja, um pacto de fidelidade. Estabelece por meio desta aliança o sinal da santificação. Colocando um arco no céu como manifestação da sua vontade Ele conclui sua verdade e manifesta sua vontade. Este sinal é mais plenamente manifesto, quando Cristo, em sua vitória sobre a tentação, vislumbra com seu batismo e combate contra satanás no deserto, mostrando a força da graça de Deus. N´Ele a misericórdia de Deus é plenamente apresentada.
Banhados em Cristo somos novas criaturas, mas esse banho regenerador precisa ser constantemente renovado pelos sinais sacramentais e pela vivência da caridade. Assim, mortos nas águas batismais em Cristo somos nova criatura na medida que lutamos com responsabilidade. A Igreja sinal da arca é o lugar onde encontramos a vida nova em Jesus. O batismo é a nova e definitiva aliança de Deus com a humanidade. Neste sentido, o batismo é um convite a conversão diária por meio da penitência.
 “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Essas palavras do Senhor mostram a conexão necessária entre a fé e a conversão, entre ser cristão e a mudança de vida em vista do Reino. A religião cristã é um convite a transforma todo o nosso ser, nossa maneira de pensar e de agir. Os primeiros cristãos não separavam a fé em Cristo da imitação a ele. Ser cristão era o mesmo que prolongar Cristo no mundo. A realidade cristã envolvia a cabeça e o coração. Daí a luta de todo cristão de morrer o velho homem do pecado. “Já não vos é permitido trazer aquela velha túnica, digo, não esta túnica visível, mas o homem velho corrompido pelas concupiscências falazes. Oxalá a alma, uma vez despojada dele, jamais torne a vesti-lo” (São Cirilo de Jerusalém, Segunda Catequese Mistagógica sobre o Batismo, 2). Quem se aproxima de Deus se transforma numa criatura nova, pois assim como não é possível aproximar-se do sol sem se queimar ou entrar na água sem se molhar, tampouco é possível aproximar-se de Deus sem se transformar.
Como ensinava São Leão Magno o nosso combate que temos a frente não é contra o sangue nem contra a carne, mas contras os principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal que povoam as regiões celestiais. Contra este tipo de inimigo demos que nos prevenir com a atenção voltada para o Senhor. Portanto, pode-vos de pé e cingi vossos rins com a verdade e revesti-vos com couraça da justiça e calçai os vossos pés com a preparação do Evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com os quais podereis extinguir os dardos inflamados do maligno.  
A transformação empreitada pela nova vida em Cristo deve levar o convertido a buscar à “medida alta da vida cristã”, que começa com uma vida de fé, na qual se inserem, necessariamente, a mudança de mentalidade e de costumes, a promoção da justiça, a luta pela liberdade, a defesa da vida e a busca da paz. Uma autentica conversão a Deus corresponde uma vida mais humana e concreta. A abertura sobrenatural da fé não é  abandono da vida terrenal, mas superação dos sinais de morte que manifestam a divisão.
 No itinerário da conversão  o 1º Domingo da Quaresma nos apresenta o mistério do jejum de Jesus no deserto, seguido das tentações (cf. Mc 1 ,12-15). Tendo em conta que a quaresma é um tempo forte de conversão e renovação em preparação à Páscoa, ele dever ser um caminho de mudança interior.  É tempo de rasgar o coração e voltar ao Senhor. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à graça do Senhor, que nos ama e nos socorre. É um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a nossa vida cristã. E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que freqüentemente tentam nos afastar dos planos de Deus.
É a primeira vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente. Põe à prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias. Jesus deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz São João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar combate com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem maiores tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado. Se não contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a um grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A narrativa das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em tudo” (Hb 4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de Deus. Diz Santo Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não pode escapar à prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela prova. De fato, ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode ser coroado sem ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não pode lutar se não encontrou o inimigo e as tentações.
O demônio promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das suas mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos experimentar, o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar a todo o custo a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a nós mesmos nas coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos é o nosso próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós permanece a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao Senhor que não queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a nós quando diz: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o que nós desejamos e pedimos: servir a Deus, alicerçados na vocação a que Ele nos chamou.

Não esqueçamos que o Senhor Jesus caminha conosco, tentado como foi, sabe as artimanhas do tentador, por isso, mesmo não nos abandona sozinhos no deserto. O Senhor está sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente: “Confiai: Eu venci o mundo” (Jo16, 33).
Neste tempo quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos apresenta a Campanha da Fraternidade com o tema : “Fraternidade e superação da violência”, e o lema, Em Cristo somos todos irmãos” ( Mt23,8). A luta pela paz e a promoção da cultura da não-violência são extremamente necessária diante do caos que  se tornou a segurança publica no pais e no mundo. A falta de amor pela vida e a ausência de princípios éticos fundamentais que regule as relações humanas demonstram a urgência de conversão ao amor divino. Há que se promover neste dias da CF uma corrente de solidariedade em vista do bem do próximo. Pensemos neste momento nos milhares de irmãos venezuelanos que fogem em busca de comida e segurança em nossas fronteiras? Eles são filhos de Deus, nossos irmãos em Cristo. Não podemos aceitar que toquem fogo neles como material descartável. Basta de violência! Façamos jejum da maldade, da indiferença, do ódio, da guerra.   



Pe. Fantico Borges, CM

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