Homilia do Pe. Fantico Borges para I semana da quaresma ano b.
Fazei Penitência e Credes no Evangelho!
Neste tempo Deus nos chama a conversão pelo caminho
dos exercícios quaresmais. As tentações e provas são meios de purificadores
nesta jornada santificante. O Senhor faz conosco uma aliança, ou seja, um pacto
de fidelidade. Estabelece por meio desta aliança o sinal da santificação.
Colocando um arco no céu como manifestação da sua vontade Ele conclui sua
verdade e manifesta sua vontade. Este sinal é mais plenamente manifesto, quando
Cristo, em sua vitória sobre a tentação, vislumbra com seu batismo e combate
contra satanás no deserto, mostrando a força da graça de Deus. N´Ele a
misericórdia de Deus é plenamente apresentada.
Banhados em Cristo somos novas criaturas, mas esse
banho regenerador precisa ser constantemente renovado pelos sinais sacramentais
e pela vivência da caridade. Assim, mortos nas águas batismais em Cristo somos
nova criatura na medida que lutamos com responsabilidade. A Igreja sinal da
arca é o lugar onde encontramos a vida nova em Jesus. O batismo é a nova e
definitiva aliança de Deus com a humanidade. Neste sentido, o batismo é um
convite a conversão diária por meio da penitência.
“Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc
1,15). Essas palavras do Senhor mostram a conexão necessária entre a fé e a
conversão, entre ser cristão e a mudança de vida em vista do Reino. A religião
cristã é um convite a transforma todo o nosso ser, nossa maneira de pensar e de
agir. Os primeiros cristãos não separavam a fé em Cristo da imitação a ele. Ser
cristão era o mesmo que prolongar Cristo no mundo. A realidade cristã envolvia
a cabeça e o coração. Daí a luta de todo cristão de morrer o velho homem do
pecado. “Já não vos é permitido trazer aquela velha túnica, digo, não esta
túnica visível, mas o homem velho corrompido pelas concupiscências falazes.
Oxalá a alma, uma vez despojada dele, jamais torne a vesti-lo” (São Cirilo de
Jerusalém, Segunda Catequese Mistagógica sobre o Batismo, 2). Quem se aproxima
de Deus se transforma numa criatura nova, pois assim como não é possível
aproximar-se do sol sem se queimar ou entrar na água sem se molhar, tampouco é
possível aproximar-se de Deus sem se transformar.
Como ensinava São Leão Magno o nosso combate que
temos a frente não é contra o sangue nem contra a carne, mas contras os
principados, contra as autoridades, contra os dominadores deste mundo de
trevas, contra os espíritos do mal que povoam as regiões celestiais. Contra
este tipo de inimigo demos que nos prevenir com a atenção voltada para o
Senhor. Portanto, pode-vos de pé e cingi vossos rins com a verdade e
revesti-vos com couraça da justiça e calçai os vossos pés com a preparação do
Evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé, com os quais podereis extinguir
os dardos inflamados do maligno.
A transformação empreitada pela nova vida em Cristo
deve levar o convertido a buscar à “medida alta da vida cristã”, que começa com
uma vida de fé, na qual se inserem, necessariamente, a mudança de mentalidade e
de costumes, a promoção da justiça, a luta pela liberdade, a defesa da vida e a
busca da paz. Uma autentica conversão a Deus corresponde uma vida mais humana e
concreta. A abertura sobrenatural da fé não é abandono da vida terrenal, mas superação dos
sinais de morte que manifestam a divisão.
No itinerário da conversão o 1º Domingo da Quaresma nos apresenta o
mistério do jejum de Jesus no deserto, seguido das tentações (cf. Mc 1 ,12-15).
Tendo em conta que a quaresma é um tempo forte de conversão e renovação em
preparação à Páscoa, ele dever ser um caminho de mudança interior. É tempo de rasgar o coração e voltar ao
Senhor. Tempo de retomar o caminho e de se abrir à graça do Senhor, que nos ama
e nos socorre. É um tempo sagrado para aprofundar o Plano de Deus e rever a
nossa vida cristã. E nós somos convidados pelo Espírito ao DESERTO da Quaresma
para nos fortalecer nas TENTAÇÕES, que freqüentemente tentam nos afastar dos
planos de Deus.
É
a primeira vez que o demônio intervém na vida de Jesus, e faz isto abertamente.
Põe à prova Nosso Senhor; talvez queira averiguar se chegou a hora do Messias.
Jesus deixa-o agir para nos dar exemplo de humildade e para nos ensinar – diz
São João Crisóstomo –, quis também ser conduzido ao deserto e ali travar
combate com o demônio a fim de que os batizados, se depois do batismo sofrem
maiores tentações, não se assustem com isso, como se fosse algo de inesperado.
Se não contássemos com as tentações que temos de sofrer, abriríamos a porta a
um grande inimigo: o desalento e a tristeza.
A
narrativa das tentações que Jesus sofreu mostra que Jesus “foi experimentado em
tudo” (Hb 4, 15), comprovando também a veracidade da Encarnação do Verbo de
Deus. Diz Santo Agostinho que, na sua passagem por este mundo nossa vida não
pode escapar à prova da tentação, dado que nosso progresso se realiza pela
prova. De fato, ninguém se conhece a si mesmo sem ser experimentado, e não pode
ser coroado sem ter vencido, e não pode vencer, se não tiver combatido e não
pode lutar se não encontrou o inimigo e as tentações.
O
demônio promete sempre mais do que pode dar. A felicidade está muito longe das
suas mãos. Toda a tentação é sempre um engano miserável! Mas, para nos
experimentar, o demônio conta com as nossas ambições. E a pior delas é desejar
a todo o custo a glória pessoal; a ânsia de nos procurarmos sistematicamente a
nós mesmos nas coisas que fazemos e projetamos. Muitas vezes, o pior dos ídolos
é o nosso próprio eu. Temos que vigiar, em luta constante, porque dentro de nós
permanece a tendência de desejar a glória humana, apesar de termos dito ao
Senhor que não queremos outra glória que não a dEle. Jesus também se dirige a
nós quando diz: “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás”. E é isto o
que nós desejamos e pedimos: servir a Deus, alicerçados na vocação a que Ele
nos chamou.
Não
esqueçamos que o Senhor Jesus caminha conosco, tentado como foi, sabe as
artimanhas do tentador, por isso, mesmo não nos abandona sozinhos no deserto. O
Senhor está sempre ao nosso lado, em cada tentação, e nos diz afetuosamente:
“Confiai: Eu venci o mundo” (Jo16, 33).
Neste
tempo quaresmal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos
apresenta a Campanha da Fraternidade com o tema : “Fraternidade e superação da
violência”, e o lema, Em Cristo somos todos irmãos” ( Mt23,8). A luta pela paz
e a promoção da cultura da não-violência são extremamente necessária diante do
caos que se tornou a segurança publica
no pais e no mundo. A falta de amor pela vida e a ausência de princípios éticos
fundamentais que regule as relações humanas demonstram a urgência de conversão
ao amor divino. Há que se promover neste dias da CF uma corrente de solidariedade
em vista do bem do próximo. Pensemos neste momento nos milhares de irmãos
venezuelanos que fogem em busca de comida e segurança em nossas fronteiras? Eles
são filhos de Deus, nossos irmãos em Cristo. Não podemos aceitar que toquem
fogo neles como material descartável. Basta de violência! Façamos jejum da
maldade, da indiferença, do ódio, da guerra.
Pe.
Fantico Borges, CM
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